O que é? Para que serve?

A psicoterapia Junguiana é baseada em um tipo específico de abordagem, desenvolvida pelo médico suíço C.G.Jung, que dizia que cada homem possui um potencial criativo e que se ele conseguir colocar em uso para seu benefício, irá desenvolver um estilo único de ser e agir no mundo, buscando o bem estar de si mesmo e dos outros. Um ser humano só é desenvolvido se interagir criativamente com seu próximo, em prol de um bem comum. Na terapia junguiana, que explora extensivamente os sonhos e fantasias, um diálogo é estabelecido entre a mente consciente e os conteúdos do inconsciente. 

Na visão de Jung, quando o bebê nasce, ele não é uma tábula rasa. Pelo contrário, traz uma bagagem genética e psíquica. Não só seu corpo é resultado de uma cadeia de genes, mas também seu psiquismo provém de experiências ancestrais. Aquilo que Jung chamou de inconsciente coletivo, é na verdade um arquivo da história da humanidade. Toda criança nasce numa situação sócio-afetiva cultural, melhor ou pior estruturada e vai então desenvolvendo seu ego, se tornando uma pessoa com identidade. Esse caminho é permeado pelas energias arquetípicas de seu inconsciente e pelas experiências, melhores ou piores, de sua condição de vida. As situações ideais são do campo das utopias, porque na realidade é impossível que uma pessoa se desenvolva sem adquirir feridas a nível psíquico. São os chamados complexos, que atrapalham o desenvolvimento e a liberdade, fixando dificuldades. Quantas vezes percebemos que repetimos comportamentos que nos fazem sofrer, como se estivéssemos trilhando um círculo vicioso, sem possibilidade de transformação? 

A psicoterapia dará os meios para romper essa cadeia e ganhar a possibilidade de uma vida com mais liberdade, livrando o sujeito da angústia e do sofrimento pelas inúmeras tentativas erradas de se dar bem. A psicoterapia não trata diretamente do sintoma, não age como um remédio que traz alívio, mas não resolve o conflito; ela vai atender o indivíduo em toda sua plenitude, até que o sintoma possa ser eliminado porque não é mais necessário para o Ego que nessa altura já adquiriu uma maneira de ser mais livre e satisfatória. 

O primeiro teórico que considerou o inconsciente foi Freud que falou sobre o inconsciente formado na vida de cada pessoa (inconsciente pessoal), a partir de conteúdos suprimidos da consciência. Jung foi mais além e falou do inconsciente coletivo, uma camada mais profunda da psique humana, comum a toda humanidade e cuja existência aproxima o ser humano contemporâneo de seus ancestrais. Quando nascemos trazemos um registro interno da história da humanidade. Esse mundo inconsciente é regido por arquétipos que são estruturas energéticas. Dentre os arquétipos destaca-se a importância do Self, que como centro do inconsciente, coordena o desenvolvimento pessoal, aquilo que Jung chamou de Processo de Individuação. Podemos entender por Processo de Individuação o desenvolvimento máximo do potencial de uma pessoa, inserida num momento histórico e atuando nele. O Self trabalha durante toda uma vida utilizando como instrumento o Ego, que dá uma forma e um sentido único no coletivo. Quando existe um equilíbrio entre Self e Ego, não se precisa de psicoterapia. Porém, na maioria das vezes, nosso Ego orienta nossa busca por pessoas e coisas que só depois percebemos que quase sempre escolhemos o caminho mais longo e mais difícil, e muitas vezes chegamos mesmo a nos perder no caminho. Além do Self, temos inúmeros arquétipos; desde que o mundo é mundo, os comportamentos humanos foram se padronizando e cada comportamento padronizado formou um arquétipo. Veremos alguns arquétipos que são importantes no desenvolvimento da personalidade: 

O arquétipo da Grande Mãe, a energia da Grande Mãe se manifesta não apenas no cuidado amoroso com o filhote; existem também seus aspectos negativos que podemos perceber facilmente na possessividade, às vezes extrema, com que a mãe não permite que seu filho ganhe liberdade de buscar seu próprio caminho. 

Nesse momento surge a necessidade da energia de outro arquétipo, o Arquétipo do Pai. A energia desse arquétipo irá se manifestar principalmente, mas não só, no pai pessoal. Também qualquer pessoa disponível ligada àquela criança, e que tenha um pai adequado internalizado vai cumprir o importante papel de introduzir a criança na cultura em que ela nasceu. Qualquer falha nesse dinamismo patriarcal vai prejudicar o indivíduo em alguns aspectos específicos. Uma pessoa que não tenha vivido adequadamente os símbolos patriarcais (ordem, respeito, disciplina, estudo, etc…) irá ter dificuldades variadas em torno dos mesmos símbolos, como perseguir e alcançar objetivos, com figuras de autoridade, cumprir horários, concentrar-se, fazer valer seus direitos, ocupar um bom posto de trabalho, ter compromissos e responsabilidades, etc…É a existência de um pai adequado internalizado que faz com que vençamos a preguiça e pulemos cedo da cama para cumprir nossos compromissos. É a energia desse arquétipo que nos permite o sacrifício hoje em prol de um futuro melhor. 

Portanto, a psicoterapia junguiana vem para equilibrar o casal parental interno, bons o suficiente para que com uma boa auto-estima estruturada, encontrarmos e ocuparmos nosso lugar. O terceiro dinamismo que irá estruturar o Ego é regido pelos arquétipos da Anima e do Animus, o Outro existente no nosso mundo interno. A Anima, faz parte do inconsciente do homem, e é o feminino que irá fazer contraponto com o Ego, tornando possível para o Eu compreender o Outro e estabelecer uma dialética criativa com ele. No inconsciente da mulher está o Animus, com a mesma tarefa que a Anima, relativizando o poder do Ego e criando a possibilidade da relação com o que é diferente do Eu, crescendo na compreensão de quem é o outro e quem sou eu. Nesse momento, pai e mãe são afastados e o jovem procura identificação com seus companheiros, outros jovens, formando grupos, onde afinidades e atritos irão estruturar o Ego. Esse dinamismo também oferece o perigo da fixação; não são poucos os “coroas”, homens e mulheres já maduros que permanecem como que na adolescência, indefinidos no que querem realmente para suas vidas. 

O quarto dinamismo de desenvolvimento do Ego é regido pelo arquétipo do Velho Sábio. A sabedoria é prêmio de uma vida bem vivida e nesse momento, será através dela, a percepção de qual o verdadeiro sentido da vida individual inserida como parte de um Todo, e com essa compreensão buscar-se- á a transcendência. A fixação que pode ocorrer é a amargura de quem não consegue a sabedoria. Nessa hora de transcender desejos, as antigas frustrações podem retornar como correntes prendendo o ego na amargura do que poderia ter sido mas não foi, o Velho Sábio então se retira e no seu lugar estará o velho decadente. Em todos esses momentos de desenvolvimento do Ser, a psicoterapia vem contribuir para o auto-conhecimento, a descoberta de quem verdadeiramente somos.

“Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der”. 
Carl Gustav Jung.